Comecei a ler o livro “à mesa em Sefarad”, de Mónica Pinto, e ele chegou mesmo a tempo de Chanucá. Não foi planeado, mas acabou por fazer todo o sentido. Este ano, Chanucá vai ser mais doce, literalmente, porque vou experimentar algumas das receitas do livro, mas também porque este é um livro que deve ser lido com tempo e com atenção e não um livro que se folheia à pressa.
Dá vontade de parar, ler, voltar atrás e perceber de onde vêm as receitas e o que representam.
Um livro que não é só de receitas
Este não é apenas um livro de cozinha. As receitas estão lá, bem explicadas e organizadas, mas o livro vai muito além disso. Fala da história dos judeus sefarditas, da vida quotidiana, das casas, das cozinhas, das festas e também dos períodos difíceis, como os anos da Inquisição.
Gostei especialmente da forma como a autora explica o contexto histórico antes de nos levar às receitas. Ajuda a perceber porque certos ingredientes aparecem tantas vezes, porque o mel, os frutos secos, o azeite e as especiarias têm tanto peso nesta cozinha.
Chanucá e a mesa como lugar de memória
Chanucá, é uma festa judaica conhecida como a Festa das Luzes. Celebra-se durante oito dias e começa ao pôr do sol do dia 25 do mês judaico de Kislev.
Este ano, Chanucá decorre de domingo à noite, 14 de dezembro, até segunda-feira, 22 de dezembro de 2025.
É uma festa muito ligada à casa, à família e à mesa. E isso liga-se naturalmente a este livro. Muitas das receitas que aqui aparecem fazem parte dessas tradições familiares que passaram de geração em geração, mesmo em contextos de exílio e perseguição.
A casa sefardita, Córdoba e Al-Andaluz
Há um capítulo dedicado à casa sefardita que gostei particularmente. A forma como são descritos os pátios, as cozinhas em pedra, os potes de barro, a organização da casa em torno do fresco e da sombra fez-me pensar muito em Córdoba.
Depois de ler este livro, fiquei com ainda mais vontade de conhecer Córdoba. Não apenas como cidade turística, mas como lugar onde judeus, cristãos e muçulmanos viveram lado a lado durante séculos, partilhando espaços, saberes e também sabores.
História, comida e identidade
O livro percorre vários séculos, desde a Idade Média até aos períodos mais duros da Inquisição, mostrando como a comida foi uma forma de preservar identidade. Muitas receitas sobreviveram porque continuaram a ser feitas em casa, mesmo quando tudo o resto era posto em causa.
É impossível não reconhecer aqui muitas ligações à cozinha portuguesa. Algumas receitas, ou variações delas, continuam presentes na nossa mesa sem que muitas vezes saibamos de onde vêm.
Sobre a autora
Mónica Pinto é fotógrafa gastronómica, food stylist e investigadora. O trabalho que desenvolveu ao longo de anos sobre a história e as tradições dos judeus sefarditas está bem visível neste livro. Nota-se investigação, mas também envolvimento pessoal. Nada aqui parece feito de forma superficial.
Porque este livro faz sentido para mim
Este livro faz sentido para mim, porque o judaísmo não é algo que observo à distância. É algo que sinto e que vivo no dia a dia. As tradições, a cultura judaica, as festas, os rituais e a forma como a memória é transmitida fazem parte de quem sou e da forma como olho o mundo. Ao ler “à mesa em Sefarad” reconheci muito do que já conheço, e do que valorizo: a importância da mesa, da família, do tempo dedicado, da continuidade. Este livro não me apresentou algo estranho ou distante; pelo contrário, confirmou e aprofundou algo que já vive em mim.
Neste Chanucá, este livro vai estar por perto. Na mesa, na cozinha e nas leituras feitas com tempo.
Porque a comida também conta histórias, e este livro ajuda-nos a ouvi-las. ✨





Para comprar o livro:
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