
O dia 7 de outubro de 2023 ficará marcado como uma das datas mais trágicas da história recente de Israel. Nesse dia, o grupo terrorista Hamas, apoiado pelo regime iraniano, lançou um ataque sem precedentes contra civis israelitas. Mais de 1.200 pessoas foram assassinadas, centenas ficaram feridas e 255 reféns de 42 países, homens, mulheres, crianças, bebés e idosos, foram levados para Gaza.
Entre os massacres mais chocantes esteve o ataque ao festival de música Nova, onde centenas de jovens foram executados a sangue-frio. Famílias inteiras foram queimadas vivas ou fuziladas nas suas casas nos kibutzim de Be’eri, Kfar Aza e outros locais. Mulheres foram violadas, idosos assassinados diante dos netos, e crianças mortas diante dos pais. Estes atos não foram “acidentes de guerra”; foram crimes planeados, executados com crueldade e, em muitos casos, filmados pelos próprios autores.
O que motiva o Hamas : explicado de forma clara
Dizer que o Hamas “não reconhece Israel” é verdade, mas é insuficiente para compreender o perigo que representa. O Hamas não luta por dois Estados; rejeita a existência de um Estado judeu na Palestina e promove o nacionalismo palestiniano num quadro ideológico islâmico, seguindo uma política de jihad (luta armada) contra Israel.
Para entender melhor, é preciso olhar para os textos fundadores que o próprio movimento publicou: a Carta de 1988 (documento fundador) e o Documento sobre Princípios e Políticas Gerais de 2017 (uma tentativa posterior de ajustar linguagem, sem alterar o essencial). Ambas as peças ajudam a perceber a ambição política e religiosa do movimento.
Logo no preâmbulo da Carta de 1988, surge a citação do fundador da Irmandade Muçulmana no Egipto: “Israel existirá e continuará a existir até que o Islão o oblitere, tal como obliterou outros antes dele.” No artigo 1.º, a Carta afirma que o Hamas “extrai” as suas ideias do Islão; no artigo 2.º, apresenta-se como “um dos braços dos Irmãos Muçulmanos na Palestina.”
No artigo 8.º, aparece o slogan do movimento: “Alá é o objectivo, o Profeta o seu modelo e o Alcorão a sua Constituição. A jihad é o seu caminho e a morte na senda de Alá é o mais sublime dos seus desejos.” Não é metáfora: é um programa político-religioso.
Waqf e terra inalienável
O artigo 11.º da Carta define a Palestina como waqf islâmica, uma doação religiosa consagrada “até ao Dia do Juízo”. Na prática, isso significa que, segundo essa leitura, a terra é um legado divino inalienável: não pode ser cedida, vendida ou negociada por líderes árabes ou organizações. Daí que soluções negociadas (como dois Estados) sejam vistas como inaceitáveis: para o Hamas, a terra não é um bem político; é uma obrigação religiosa.
Jihad como política: o sentido bélico
A Carta não deixa dúvidas sobre o meio para “libertar” a Palestina: jihad, aqui entendida no sentido militar (luta armada) e não apenas espiritual. No artigo 15.º, lê-se que, quando parte da terra muçulmana é “usurpada”, a jihad torna-se um dever individual de cada muçulmano. O Hamas associa a isto uma estratégia de mobilização e doutrinação a nível local, árabe e islâmico.
O papel da sociedade e da mulher
Nos artigos sociais, o Hamas sublinha que a mulher muçulmana tem papel na “batalha da libertação”, formando e educando gerações, uma função descrita como “fazedora de homens” e rejeita modelos de emancipação feminina de matriz secular/ocidental, vistos como instrumentos “dos inimigos” para enfraquecer a comunidade. Em suma: a luta é total, é militar, religiosa e cultural.
Continuidade histórica e legitimação
A Carta liga a sua luta a episódios históricos, cruzadas, mongóis, para legitimar a ação presente como continuidade de uma luta antiga. O artigo 35.º evoca estas “provas da história” para inspirar e justificar a violência atual.
O que tudo isto quer dizer, na prática?
Não é “só política territorial”. A reivindicação é religiosa e existencial: a terra é um legado islâmico não negociável.
A jihad é método “legítimo”. O uso da força é apresentado como dever religioso quando há “usurpação”, daí os ataques massivos e a violência indiscriminada.
Doutrinação social/educativa. Papéis sociais, currículos e mensagens para formar novas gerações alinhadas com a visão do movimento.
Retórica = prática. O que está nos documentos (Carta de 1988; Documento de 2017) tem-se traduzido em ações militares e táticas que colocam civis, de ambos os lados, em perigo (rockets, túneis, escudos humanos).
Como essa ideologia se traduziu no ataque de 7 de Outubro
O ataque mostrou o que acontece quando uma organização com esta visão decide agir: atentados coordenados, matanças em massa, sequestros e violência sexual, numa estratégia que mistura ódio ideológico e tática militar. O uso de civis como escudos, o armazenamento de armas em áreas residenciais e a instrumentalização de imagens de terror são padrões documentados.
O New York Times, numa investigação baseada em vídeos, fotografias, dados GPS e mais de 150 entrevistas, documentou pelo menos sete locais de agressões sexuais e mutilações: Festival Nova, estrada 232 e kibutzim Be’eri, Alumim, Nahal Oz, Re’im, entre outros. Descrevem-se casos de violações em grupo, execuções e mutilações gravíssimas. É jornalismo verificado e corroborado por outras instâncias internacionais.
Estes relatos chegaram ao Conselho de Segurança da ONU. Ainda assim, a resposta internacional foi tardia: a ONU Mulher só emitiu uma condenação pública quase dois meses depois, reconhecendo relatos de violência sexual nos ataques, atraso que muitos viram como duplicidade de critérios.
Crianças, reféns e a dimensão humana do crime
Entre as vítimas havia bebés, crianças e grávidas. Casos como Mila Cohen (9 meses, metralhada no berço) e Naama Abu Rashed (morta ainda no ventre da mãe) mostram até onde se chegou. Quarenta e duas crianças foram feitas reféns; entre elas, Kfir Bibas (8 meses) e o irmão Ariel, cuja morte chocou o país. A morte deliberada de crianças é um crime absoluto.
Nada disto diminui o sofrimento de civis palestinianos. Mas é importante dizer com clareza: muitos destes horrores tiveram um autor direto, ataques planeados por terroristas do Hamas e grupos aliados (com rockets, drones e incursões), e um método que faz dos civis de Gaza escudos humanos.
A resposta israelita e a responsabilidade do Hamas
Israel tem o direito e o dever de defender os seus cidadãos. Depois de 7 de Outubro, lançou operações para destruir capacidades militares, recuperar reféns e impedir repetições. O custo humano é enorme, sobretudo para civis de Gaza, muitas vezes coagidos pelo Hamas a permanecer em zonas de combate ou usados para mascarar posições militares. A opção do Hamas por túneis, rockets e bases em áreas densas é uma escolha política e moral com consequências trágicas.
Um contexto histórico que não pode ser esquecido
Quem estuda história sabe que o ódio aos judeus tem raízes anteriores ao século XX. Houve episódios de colaboração entre figuras do mundo árabe e o regime nazi, como o Grande Mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, que viveu em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial e manteve contactos com líderes nazis; estes factos constam das actas de Nuremberga. O ponto não é “culpa coletiva”, mas compreender continuidades de discurso antijudaico que ainda hoje alguns exploram.
Conclusão: por que é importante perceber isto corretamente
O massacre de 7 de Outubro foi a expressão assassina de uma ideologia que combina religião, política e violência e que não aceita a existência de um Estado judaico. Ler o que o Hamas proclama nos seus documentos fundadores ajuda a explicar por que motivo este grupo não é um interlocutor para uma simples repartição territorial: para ele, muitos instrumentos diplomáticos (acordos, conferências, cedências) colidem com a sua leitura religiosa da terra.
Defender Israel significa defender o direito à vida, à segurança e à dignidade dos seus cidadãos; exigir responsabilidade a quem escolhe a guerra como método; e pedir coerência internacional para condenar o terrorismo, proteger civis e responsabilizar quem instrumentaliza a violência.
Referências
- Carta do Hamas (1988) – tradução e excertos (pt/pt-br): O Estatuto do Hamas: uma doutrina que promove o terrorismo. StandWithUs. (Contém trechos do preâmbulo e dos artigos 1.º, 2.º, 8.º, 11.º, 15.º, 35.º.)
- Documento de Princípios e Políticas Gerais do Hamas (2017) – posições políticas atualizadas (continuidade ideológica com 1988). (Referência textual complementar ao ponto anterior.)
- Dez coisas que você precisa saber sobre a Guerra do 7 de Outubro – dados de vítimas, reféns, uso de escudos humanos, e linha do tempo (StandWithUs Brasil, 2025).
- New York Times (2023, 28 dez.) – “Screams Without Words”: How Hamas Weaponized Sexual Violence on Oct. 7 – investigação com vídeo, fotos, GPS e >150 entrevistas; identifica sete locais de violência sexual/mutilações.
- ONU Mulher (2023, 1 dez.) – primeira declaração pública após as denúncias de violência sexual (reconhecimento tardio). unwomen.org
- Relatos de seguimento – Haaretz (2023, 2 dez.) sobre a condenação oito semanas depois; dossiês de ONGs e missões da ONU que apontam para “fundados indícios” de violência sexual.


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