
Nos dias de hoje fala-se muito de Palestina, mas nem sempre se sabe de onde vem esse nome ou qual o seu verdadeiro significado. Por isso, vale a pena revisitar a história e perceber a evolução desta designação ao longo dos séculos.
Os filisteus, povo de origem mediterrânica, chegaram à costa da atual Israel entre 1180 e 1154 a.C., no tempo do faraó Ramsés III. Estabeleceram cinco cidades principais: Gaza, Asquelon, Asdod, Ecrom e Gat. O nome “filisteus” tem origem na raiz hebraica P-L-Sh, que significava “invasores” – um termo usado de forma depreciativa pelos israelitas. Há também registos bíblicos que falam dos “caftoritas”, vindos de ilhas do mar Egeu, possivelmente Creta ou Chipre, o que reforça a ideia de uma origem europeia desse povo. Estudos de DNA realizados em 2019 confirmaram essa ligação, apontando para raízes no sul da Europa.

Com o passar do tempo, os filisteus foram desaparecendo como povo distinto, sobretudo após as campanhas de Nabucodonosor II, em 604 a.C. Ainda assim, o termo “Filístia” continuou a ser usado para identificar a faixa costeira onde viveram. Foi apenas séculos mais tarde, depois da revolta de Bar Kokhba contra Roma, em 135 d.C., que o imperador Adriano decidiu alterar o nome da província da Judeia para “Síria-Palestina”. Este gesto não foi inocente: pretendia apagar a ligação judaica à terra de Israel e humilhar o povo judeu, eliminando até o nome original de Jerusalém, que passou a chamar-se Aelia Capitolina.

A partir daí, “Palestina” tornou-se sobretudo uma designação geográfica, usada por gregos, romanos, bizantinos e, mais tarde, pela Igreja. O termo foi adotado na cartografia medieval e moderna, mas nunca representou um estado ou uma nação independente. Tal como refere o historiador Joseph E. Katz, “Palestina” era uma região, não uma entidade política.
Durante o período árabe-muçulmano, iniciado em 638 d.C., a região foi integrada no vasto império islâmico. O nome “Palestina” foi adaptado à língua árabe como “Falastin”. Porém, também nesse tempo nunca existiu um estado palestiniano – a área era administrada a partir de capitais exteriores, como Damasco, Bagdade ou, mais tarde, Istambul, sob o domínio otomano.
Foi apenas no século XX que o termo ganhou uma nova dimensão. Com o fim do Mandato Britânico e a partilha decidida pela ONU em 1947, surgiram a proposta de um estado judeu e de um estado árabe. É a partir desse momento que “Palestina” passa a ser reivindicada como identidade nacional árabe, distinta das outras comunidades da região. Até então, o nome tinha sido apenas uma referência territorial, e nunca a designação de um povo próprio.

Assim, compreender a origem do nome Palestina ajuda-nos a desfazer mitos frequentes: os palestinianos atuais não descendem dos antigos filisteus, mas sim de populações árabes muçulmanas que se estabeleceram na região a partir do século VII. O termo que hoje designa um povo nasceu de um percurso histórico longo, marcado por disputas, conquistas e, sobretudo, pela força das palavras em moldar memórias e identidades.


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