
Há livros que são mais do que simples relatos: tornam-se documentos de memória coletiva. “O Dia que Mudou Israel”, de Helena Ferro Gouveia, é um desses livros. Resultado de várias semanas de reportagem no terreno, a obra dá voz às vítimas e sobreviventes do ataque terrorista do Hamas a Israel, no dia 7 de outubro de 2023, um dos dias mais sombrios da história recente.
Foi num festival de música, um espaço de paz e celebração, que a brutalidade irrompeu. Jovens pacifistas, muitos deles defensores de causas progressistas, foram atacados de forma indiscriminada.
Mas o terror não ficou por aí. Os kibbutzim da região, comunidades agrícolas onde famílias viviam de forma tranquila, foram igualmente invadidos e alvo de violência brutal, deixando um rasto de morte, destruição e luto. Para além do número trágico de mortos, o horror deixou marcas profundas em famílias, comunidades inteiras e em todo um país. Helena Ferro Gouveia sentiu que o sofrimento destas pessoas foi rapidamente varrido da atenção pública e escreveu este livro para contrariar o esquecimento.
O que aqui se conta não são apenas números ou estatísticas. São histórias de vida interrompidas, testemunhos pungentes de quem sobreviveu e a recordação de que a violência contra inocentes não pode ser relativizada. Como a própria autora sublinha, “em todas as guerras, desde sempre, o corpo da mulher é considerado um espólio”, e neste ataque também esse lado cruel não esteve ausente.
Helena, que viveu duas décadas na Alemanha e tem uma vasta experiência em cenários de crise e guerra, lembra-nos que os paradigmas ocidentais muitas vezes nos impedem de compreender a verdadeira dimensão destes acontecimentos. O livro não se prende com opções políticas ou leituras ideológicas: é, sobretudo, um retrato humano, um apelo à empatia e à memória.
O 7 de outubro de 2023 não pode ser esquecido nem relativizado. Ler este livro é um ato de consciência, um passo para compreender a gravidade do terrorismo e o perigo que representam organizações fundamentalistas como o Hamas. É também uma forma de educar, de transmitir às próximas gerações a importância da memória e da defesa da vida contra o ódio e a intolerância.
Mais do que um registo jornalístico, “O Dia que Mudou Israel” é um testemunho contra o esquecimento. Um convite a refletir, a lembrar e a não permitir que a indiferença abra espaço para que tragédias semelhantes se repitam.


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