
Na freguesia de Terroso, em plena Póvoa de Varzim, ergue-se uma das mais importantes estações arqueológicas do Noroeste Peninsular: a Cividade de Terroso. Com o seu estatuto de Imóvel de Interesse Público, esta elevação de 153 metros de altitude conserva memórias de um povoado castrejo que atravessou séculos de ocupação — desde os finais da Idade do Bronze (séc. IX-VIII a.C.) até à época da romanização (séc. I-II d.C.).
A complexidade da sua organização defensiva impressiona ainda hoje. Três linhas de muralhas cercavam o povoado, com destaque para o poderoso sistema central, feito de blocos de pedra justapostos sem argamassa, unidos por saibro. Um verdadeiro exemplo de engenharia antiga, pensado para proteger os seus habitantes num território em constante disputa.
O interior da Cividade revela um traçado urbano bem estruturado: um arruamento principal lajeado dividia o espaço em quatro grandes unidades. Dentro de cada quadrante, encontramos núcleos familiares organizados em torno de pátios, também eles lajeados — sinal de uma vida comunitária planeada e adaptada ao terreno.
A primeira escavação formal ocorreu em 1906, sob a liderança do notável arqueólogo Rocha Peixoto. Contudo, após a sua morte, os trabalhos ficaram parados durante décadas, sendo apenas retomados em 1980 graças ao esforço do Professor Armando Coelho e, mais tarde, do Dr. José Manuel Flores Gomes. Desde então, a Cividade tem sido alvo de investigação, conservação e valorização constantes, com o apoio da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
A visita ao local é enriquecida pelo Núcleo Arqueológico da Cividade de Terroso, inaugurado em 2004, que serve como centro interpretativo da estação. Já o espólio mais significativo — testemunho das várias fases de ocupação — pode ser apreciado na “Sala de Arqueologia” do Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim.
A Cividade de Terroso não é apenas um local de vestígios antigos — é um testemunho vivo da resiliência, do engenho e da identidade dos povos que habitaram estas terras muito antes de Portugal existir.









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