
Quem nunca se divertiu com o tradicional Jogo do Rapa nos tempos dos nossos avós ou pais? Um pião de quatro faces, letras intrigantes e a expectativa do resultado ao cair – este jogo simples, mas cativante, atravessou gerações em Portugal. No entanto, poucos sabem que ele partilha raízes históricas com um jogo judaico muito semelhante: o Dreidel, amplamente associado à celebração do Hanukkah.
O Jogo do Rapa: Tradição Portuguesa
Em Portugal, o Jogo do Rapa era popular entre crianças, especialmente durante a época natalícia. Para jogar, é preciso um pequeno pião de madeira com quatro faces, cada uma marcada com uma letra:
- R: Rapa – O jogador recolhe todas as peças do centro.
- P: Põe – O jogador deve colocar uma peça no centro.
- T: Tira – O jogador retira uma peça.
- D: Deixa – Nada acontece; o jogo continua.
Os jogadores começam geralmente com cinco peças (feijões, pedrinhas, rebuçados ou chocolates) e, em cada rodada, colocam uma peça no centro antes de rodar o pião. O jogo continua até que um jogador acumule todas as peças ou até que os recursos se esgotem.
Além de ser um passatempo divertido, o Rapa carrega uma herança cultural rica, que muitos desconhecem.
O Dreidel: Um Símbolo de Resistência Judaica
O Dreidel, por sua vez, é um jogo tradicional judaico jogado durante Hanukkah, a Festa das Luzes. O pião Dreidel também tem quatro lados, cada um marcado com uma letra do alfabeto hebraico:
- Nun (נ): Não acontece nada.
- Gimel (ג): O jogador ganha tudo do centro.
- Hei (ה): O jogador ganha metade das peças.
- Shin (ש): O jogador deve colocar uma peça no centro.
Historicamente, acredita-se que o Dreidel surgiu durante o domínio do rei grego Antíoco IV, que proibiu o judaísmo. Para escapar à repressão, os judeus reuniam-se secretamente para estudar os textos sagrados, mas, ao serem surpreendidos pelas autoridades, disfarçavam os encontros jogando Dreidel.
Semelhanças e Influências
As semelhanças entre o Jogo do Rapa e o Dreidel são impressionantes, desde o formato do pião até às regras do jogo. É provável que, com a diáspora judaica e as conversões forçadas durante a Idade Média, o jogo tenha sido adaptado e assimilado na cultura portuguesa, recebendo novas letras e uma nova interpretação.
Ambos os jogos carregam mais do que entretenimento: são testemunhos históricos que resistiram ao tempo, atravessando fronteiras culturais e religiosas.
Conclusão
Seja em Hanukkah, com moedas de chocolate douradas, ou numa tarde de inverno portuguesa com feijões e rebuçados, o pião girava, unindo histórias e tradições de diferentes povos. Mais do que um jogo, tanto o Rapa quanto o Dreidel são símbolos de resistência, celebração e união.
Na próxima vez que segurar um pião do Rapa, lembra-te: ele não é apenas um brinquedo, mas uma peça de história que une Portugal e o povo judeu através dos séculos.


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