Dia de Todos os Santos e Magusto: Uma Viagem às Origens

O Dia de Todos os Santos, celebrado a 1 de novembro, marca um período especial em que honramos aqueles que já partiram e reconhecemos o elo profundo entre o mundo dos vivos e dos mortos. Esta época do ano, com raízes que remontam a tempos antigos, envolve o ritual do magusto e a prática de acender fogueiras, que têm origens místicas e culturais fascinantes, profundamente enraizadas nas tradições dos nossos antepassados.

As fogueiras, acesas especialmente no final de outubro e início de novembro, evocam a esperança e um apelo ao Sol, numa tentativa de manter a luz e o calor em pleno outono, enquanto os dias se tornam mais curtos e o inverno se aproxima. Para os antigos celtas, esta prática era conhecida como Samhain, uma celebração espiritual e um “Fogo da Paz” que permitia aos druidas e à comunidade reunirem-se em harmonia. Tal como explica Smith, este período representava um momento de união e renovação – as fogueiras apagavam-se e eram acesas novamente em um ritual de consagração e paz.

Com o tempo, muitos destes rituais pagãos foram incorporados no calendário cristão, adaptando-se para honrar os nossos fiéis defuntos, criando uma ligação espiritual e ritualística entre a celebração do Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados. O magusto, marcado pelas castanhas e pelo vinho novo (ou jeropiga), tem hoje um significado de união e recordação, onde nos sentamos juntos em família para partilhar, celebrar e relembrar.

A tradição de comer castanhas e beber vinho nestes dias, para muitos portugueses, remonta a antigos rituais de oferenda às almas dos nossos antepassados, um costume preservado desde os tempos romanos. Estas celebrações fazem-nos recordar que a nossa cultura valoriza a memória dos que já não estão connosco, mas que, de alguma forma, permanecem presentes no nosso dia a dia. A árvore de cipreste nos cemitérios, por exemplo, remonta ao tempo dos romanos e representa o luto e a ligação com o mundo espiritual, tal como antigamente se fazia, plantando-as à porta das casas das famílias de luto.

Em certas aldeias do Minho e em outras regiões do país, estas tradições persistem, trazendo consigo um sentimento de partilha e recordação comunitária. Em algumas localidades, ainda é comum a realização de banquetes em honra dos mortos, onde familiares e amigos se reúnem para um jantar que simboliza a prosperidade e a imortalidade da alma.

No livro Lugares Mágicos e as Tradições Portuguesas, Eduardo Amarante explora a ideia de que os nossos antepassados não separavam a vida e a morte como hoje fazemos; acreditavam numa transição entre dois planos de existência, uma passagem conduzida por figuras mitológicas como o deus Hermes, que guiava as almas até ao Além.

Essa visão de morte como uma passagem, e não como um fim, é um legado que ainda influencia muitas tradições em Portugal.

É sempre interessante saber de onde vêm as tradições, pois elas não surgem do nada. São construídas ao longo dos séculos, moldadas pelas crenças, rituais e costumes dos nossos antepassados.

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